Talvez não sejam somente as cabeças dos opositores jacobinos que estejam perdidas em meio a história da Revolução Francesa. É bem comum confundir os momentos dessa revolução historicamente importante. Então, se acomode bem na cadeira porque hoje vamos deixar sua cabeça no lugar certo!
Contexto da Revolução Francesa
A Revolução Francesa não é como as demais revoluções que ocorreram entre os séculos XVIII e XIX, ela é considerada um marco histórico entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Então, quando você entender a Revolução Francesa vai compreender um movimento que mudou muitos governos ao redor do mundo.
Certo, mas o que deu gás para a Revolução Francesa estourar em 1789?
O século XVIII teve forte influência do Iluminismo, enaltecendo a razão e o humanismo como valorosas ideais para a sociedade. Como no período Renascentista os panfletos impressos já haviam começado a circular, essas ideias iluministas se espalharam com facilidade por toda Europa.
Além disso, existia na França uma estrutura social em três poderes: Primeiro Estado, Segundo Estado e Terceiro Estado. Entre esses poderes se formava uma tensão em decorrência dos privilégios econômicos e políticos. Os membros do Terceiro Estado representando quase 95% da população francesa e eram recorrentemente desfavorecidos.
A França também enfrentava uma crise econômica, tendo baixa da produção agrícola entre 1770 e 1780, somando-se as perdas monetárias decorrentes das últimas guerras. A situação financeira francesa resultou em fome por todo o país, principalmente entre os membros do Terceiro Estado.
Para finalizar, os franceses tiveram como exemplo bem-sucedido de uma revolução, com ideias iluministas, a Revolução Americana, financiada pelo próprio Luís XVI monarca da França pré-revolucionária.
Antigo Regime Francês
Vamos com mais calma aqui para podermos compreender com que modelo de governo a Revolução Francesa rompeu.
Retornando bastante, durante a Idade Média os reis não exerciam influência forte sobre a economia ou o modelo de gestão do feudo. O poder do rei ficava muito dependente da vassalagem e o apoio de senhores feudais. Isso nada agradava aos governantes da época.
Aos poucos, se aproveitando dos momentos de fragilização do sistema feudal, como períodos de fome e guerra, os reis iam adquirindo mais poder, sempre utilizando como moeda de troca a concessão de benefícios e proteção.
Na França, o processo de centralização de poder se inicia com a Dinastia Capetíngia, fundada em 978. Gradualmente, os governantes franceses foram travando batalhas que delimitavam as fronteiras nacionais e ofertando proteção a população do país. Em outras palavras, o absolutismo não ocorreu da noite para o dia, foi um processo lento e gradual.
O modelo econômico era baseado no mercantilismo, que se torna a base do capitalismo comercial. Enquanto a sustentação do governo central na figura do rei, se deu muito devido à proteção da Igreja Católica, com a ideia do direito divino.
A organização social era em estamentos, como contamos anteriormente. O Terceiro Estado que respondia por 95% era o mais desfavorecido e o único a pagar impostos. O Segundo e o Primeiro estados atuavam como figuras de apoio da imagem central do rei.
O governo francês violava os direitos individuais e a garantia de direitos igualitários a partir do modelo de governo centralizador. O absolutismo francês fica conhecido como Antigo Regime após a Revolução Francesa.
Crise do Estado Francês
Apesar de o Antigo Regime Francês ser um modelo que rompe com o feudalismo, a economia francesa em termos de subsistência da população nacional, era muito dependente da produção agrícola. As riquezas provenientes do mercantilismo não eram utilizadas para abrandar os efeitos das crises econômicas e de produção.
Ainda de modo a se resguardar dos efeitos da crise, o rei Luís XVI toma medidas de aumento dos impostos cobrados do Terceiro Estado, provocando um distanciamento ainda maior entre o Terceiro Estado e os demais. Os 5% representantes do Primeiro e Segundo Estado quase nada sofriam com as crises no território francês, como se vivendo no isolamento de Versalhes em um França inexistente.
Além disso, os produtos estrangeiros que cada vez mais chegavam à França colocavam forte pressão sobre os comerciantes locais, provocando um descontentamento burguês com a falta de incentivo fiscal. Ao mesmo tempo, rebeliões nas regiões rurais ficavam cada vez mais frequentes.
Toda essa pressão fez com que Luís XVI promovesse uma reforma fiscal, entretanto o governante acabou por privilegiar o clero e a nobreza na proposta, representantes do Primeiro e Segundo Estado. O parlamento francês possuía poder o suficiente para vetar a proposta e provocar uma tensão interna no governo. Essa situação levou a uma crise política em 1789
Dos Estados Gerais à Monarquia Constitucional
O rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais, onde deveria ser julgada e tratada a questão da reforma fiscal. O Primeiro Estado elegeu 291 representantes, o Segundo Estado elegeu 270, e o Terceiro Estado elegeu 578 representantes. Todos os representantes deveriam debater a reforma fiscal e decidir por votação.
No entanto, os representantes do Terceiro Estado reivindicavam o voto por pessoa, enquanto os representantes do Primeiro e Segundo exigiam o voto por Estado. A questão levou a conflitos, pois era resultado direto dos diferentes interesses na França.
Quando finalmente se decidiu pelo voto por pessoa, o Rei Luís XVI interviu na Assembleia tentando dissolvê-la. Esse ato levou a uma união dos representantes do Terceiro Estado, que juraram permanecer unidos até a França obter uma nova constituição. Assim, a Assembleia dos Estados Gerais se tornou uma Assembleia Nacional Constituinte.
Ameaçado, o rei tentou fechar a Assembleia Nacional Constituinte a força, porém a população saiu as ruas defendendo à Assembleia. Logo se instalou a Comuna de Paris, um governo provisório enquanto se instituía a constituição.
O marco central da crise e o início da Revolução ocorre com a queda da Bastilha, uma antiga fortaleza que abrigava os inimigos políticos do Rei Luís XVI.
Monarquia Constitucional
O estabelecimento da Comuna de Paris e da Assembleia Nacional Constituinte inaugura a primeira fase da revolução, conhecida como Monarquia Constitucional.
Durante os anos de 1789 até 1792, o governo se dividiu em três poderes igualitários, o executivo ficaria nas mãos do rei, o legislativo seria composto por 745 membros e teria autonomia para impor limites ao governo central, enquanto o judiciário seria eleito por representantes do povo
Em 1791, a Assembleia divulgou a Carta Magna Francesa, a nova constituição, e a Declaração dos Direitos dos Homens. Esses dois documentos estabeleceram:
- Abolição dos privilégios feudais;
- Voto censitário;
- Fim dos grêmios, corporações de ofícios e greves.
A Igreja Católica também foi afetada pela revolução, tendo todos os seus bens confiscados e a imposição de subordinação ao Estado através da Constituição Civil do Clero de 1790. Nas regiões rurais o terror se espalhou, os levantes dos camponeses levavam aos massacres dos senhores feudais.
O clima político tinha se acirrado no grupo revolucionário, dando origem aos girondinos, representantes da alta burguesia, os jacobinos, republicanos radicais, e os cordeliers e feuillants ligados a massas populares e burguesia financeira, respectivamente.
Esses grupos atuavam no legislativo se dispondo os revolucionários jacobinos à esquerda do rei, representante do executivo, e conservadores girondinos à direita do rei, isso te lembra alguma coisa?
Isso mesmo, a tradição de representação política entre esquerda e direita é herança da Revolução Francesa.
Convenção Nacional
Mas deixando de lado heranças atuais da Revolução, o cenário da época não estava muito favorável ao rei. O monarca absolutista em nada apreciava a monarquia constitucional.
A disputa política levou a uma tentativa de fuga do Rei Luís XVI e a família real em direção a Áustria, no entanto, eles foram capturados antes de cruzar a fronteira. O evento levou a um conflito bélico com a Áustria e a Prússia em 1792. Porém, o embate bélico não foi o suficiente para derrotar os revolucionários franceses, prussianos e austríacos se viram derrotados no mesmo ano.
A tentativa de fuga do rei levou a um aumento do barulho político que já se expressava entre girondinos e jacobinos, a Assembleia Legislativa, que havia se formado após a extinção da Assembleia Constituinte com a emissão da Carta Magna, convocou eleições legislativas e suspendeu o poder executivo.
Os representantes jacobinos foram eleitos em maioria significativa quando comparados aos girondinos. Iniciou-se nesse momento o segundo período da Revolução Francesa, conhecido como Convenção.
República Jacobina
Se você pensa que os jacobinos governaram com uma série de reformas constitucionais, parabéns, você já pegou o espírito da coisa.
Assim que sobem ao poder, os jacobinos instauram a República através de uma nova Constituição. No ano seguinte, 1793, Luís XVI foi acusado e condenado por ser antirrevolucionário e ter se aliado a Áustria em tentativas de conter a revolução, a punição para o crime foi a morte pela guilhotina.
A contagem de tempo foi alterada, o dia 22 de setembro de 1792 passou a ser considerado o dia 1º do I ano da República.
A emissão da Lei dos Suspeitos e a formação do Tribunal Revolucionário, permitiu que os jacobinos perseguissem e condenassem a morte todos os opositores políticos. Em apenas um ano 15 mil pessoas morreram, jacobinos, girondinos, pessoas comuns, qualquer um que fosse opositor morreria. Esse momento ficou conhecido como ano do Terror.
Mas não só de sangue se fez a República Jacobina, foi instaurado o voto universal masculino, desconsiderando o critério de renda. Também foi formulado um projeto de educação ampla para os cidadãos franceses.
Diretório
A situação não estava nada agradável para a população geral, o terror provocado pelo governo jacobino estimulou revoltas populares. Em 1794 os jacobinos sofreram um golpe político, apoiado pelos setores moderados e arquitetado pelos girondinos. Os líderes jacobinos foram condenados a morte pela guilhotina.
Foram eleitos cinco representantes para o governo, todos girondinos, e em 1795 foi promulgada a nova constituição, ou Constituição III da República. O documento deu legalidade para o governo girondino e promoveu regresso em medidas que fora tomada durante a República Jacobina:
- Volta do voto censitário;
- Fim da distribuição das terras aprendidas do clero para os pobres;
- Fim da taxação do preço máximo dos alimentos.
Durante os próximos quatro anos, os girondinos governaram trazendo antigos privilégios da alta burguesia. A corrupção, a crise econômica, e a ameaça estrangeira pressionavam a França, novas revoltas começaram a aparecer.
É em meio a esse cenário, que em 1799 um jovem general que havia liderado as tropas francesas em batalhas no Egito e na Itália, após o confronto com a Áustria e a Prússia, aparece como uma figura conciliadora. Napoleão Bonaparte tinha sido bem-sucedido nas empreitas militares e se mostrava como herói francês.
Parte do setor girondino tramou um golpe que foi concretizado em 9 de novembro de 1799, ou 18 de Brumário como ficou conhecido o dia. Napoleão assume a frente do governo da França instaurando o Consulado Francês e dando fim aos ares revolucionários.
Ufa, finalmente chegamos ao fim desse grande episódio histórico. Esperamos que você tenha compreendido a importância da Revolução Francesa para entender os modelos de distribuição política atuais, assim como a formação da influência das classes sociais.
Guarda essas informações por aí e até a próxima!