Durante o período regencial diversos acontecimentos sociais e políticos causaram enormes turbulências no Brasil Império. Neste artigo faremos um resumo das principais revoltas que aconteceram durante aquele período.
Influências partidárias da época
Partido no contexto de regência eram organizações não formalizadas, homogêneas na composição dos integrantes, sem influência política formal. A liga dos partidos eram as ideias compartilhadas pelos membros.
Os restauradores ou “caramurus” compartilhavam da ideia de que um regime monárquico centralizado era melhor, reivindicando o retorno de D. Pedro I. O grupo era composto principalmente por comerciantes portugueses, burocratas e militares, beneficiados da monarquia.
Os liberais moderados ou “chimangos” enxergavam o governo monárquico centralizador como prejudicial, mas também não simpatizavam com a ideia republicana. O melhor seria um monarca comprometido com os interesses dos agroexportadores brasileiros. Elites agro produtoras do sul do país e a aristocracia agrária são os principais representantes.
Por fim, para os liberais exaltados, farroupilhas ou jurujubas a ideia mais clara era aumentar a influência dos comerciantes populares, através de medidas que estimulassem a descentralização dos poderes e a autonomia nacional. Comerciantes populares, os setores mais baixos da população brasileira se identificavam com estas reivindicações.
Revoltas e rebeliões regenciais
Tantos interesses não podiam ser atendidos por um só poder, e as regências não conseguiram acalmar os ânimos em todo o território. Ocasionando diversos descontentamentos e por consequências revoltas.
Revolta de Malês (Bahia, 1835)
Em Salvador mais de 50% da população era negra. Os negros eram obrigados a negarem as próprias origens culturais, tendo a religião católica como imposição.
É nesse contexto que a revolta é tramada. O plano foi construído nas ruas, através das escravas de ganho e pela articulação de lideranças haussas e os nagôs. A revolta pretendia matar todos os brancos traidores e tomar Salvador.
No entanto, os revoltosos foram delatados, as tropas oficiais iniciaram uma noite de repressão na capital baiana. Dos 1500 negros envolvidos na revolta cerca de 70 morreram no conflito, 200 foram torturados e levados a júri, e outros 500 foram expulsos do Brasil. Somente 7 integrantes das tropas oficiais morreram no combate.
Cabanagem (Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia, 1835 até 1840)
Na província do Grão-Pará, a população vivia em condições de miséria, em cabanas improvisadas, escravos libertos, negros fugidos e índios, conhecidos como “cabanos”. A elite produtora da região utilizava os cabanos como mão de obra semi-escrava.
Em 1835, Bernardo Lobo Souza tinha assumido como presidente com a missão de aproximar a província do governo central. Souza governava com parcialidade, decretando prisões aleatórias e forte repressão a população em geral. O sentimento de revolta popular foi aproveitado pelas elites da região que planejaram um golpe. Liderados por Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre, os revoltos executaram Bernardo Lobo.
Clemente Malcher é nomeado governador, ele tenta conter os revoltosos, mas é morto nos conflitos sangrentos que se seguem. Francisco Pedro Vinagre assume, e aceita a rendição da província sobre as condições de melhoria da vida dos cabanos e maior atenção do governo central. No entanto, ele é traído e morto.
Ainda em 1835, Antônio Vinagre, irmão de Francisco Vinagre, reorganiza as tropas cabanas e ataca o Palácio de Belém, decretando a independência da província de Grão-Pará. Eduardo Angelim se torna presidente da região, mas antes mesmo de se estabelecer começa a enfrentar conflitos dentro do movimento.
Em 1836, Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa é autorizado a bombardear Belém e declarar guerra total contra a região. Apoiado pela força estrangeira, o governo brasileiro conteve a revolta e reanexa a região.
Sabinada (Bahia, 1837 – 1838)
Francisco Sabino e João Carneiro são os nomes centrais da revolta que ocorreu em novembro de 1837. Os revoltos eram uma grupo de classe média, composto por intelectuais e comerciantes autônomos.
A principal reivindicação do movimento era a independência da Bahia da corte do Rio de Janeiro até que D. Pedro II assumisse. Com esse objetivo eles invadem a câmara municipal baiana, declarando uma independência que durou quatro meses.
As divergências de Francisco Sabino, republicano, e João Carneiro, monarquista, refletiram no movimento, principalmente na divisão sobre a questão abolicionista. Os revoltos declaram que tinham interesse em libertar os negros da terra, escravos nascidos no Brasil, o que desagradou tanto à elite como os escravos. Sem o apoio social a rebelião foi sufocada.
Balaiada (Maranhão, 1838 – 1841)
Escravos libertos, artesãos e vaqueiros são os principais representantes da revolta caracterizada por várias rebeliões isoladas, chegando ao ápice conquistando Vila de Caxias e Vargem Grande.
Raimundo Gomes, Manoel dos Anjos Ferreira e Cosme Bento tiveram atuação de liderança dentro da rebelião. A revolta começou em dezembro de 1838 perdurou até 1840, quando o governo central coloca o Coronel Luís Alves de Lima e Silva com 8 mil homens na província maranhense. O coronel vai entrar em conflito direto com os revoltosos reprendendo violentamente a resistência.
O fim oficial do conflito vem em 1840 quando D. Pedro II concede a anistia para os revoltosos arrependidos, 2500 pessoas se entregam, apagando assim a chama popular que manteve a rebelião.
Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835 – 1845)
Iniciada em 20 de setembro de 1835, o movimento é decorrente da tensão política entre liberais e conservadores e as dificuldades econômicas enfrentadas com o preço do charque (carne salgada e secada ao sol) e o couro.
Bento Gonçalves, um dos líderes da revolução, vai assumir junto aos revoltosos a capital da província, Porto Alegre, depondo o presidente provincial e convidando o império a nomear outro governador. No entanto, o império nega a negociação e muda a capital do Rio Grande do Sul, atacando Porto Alegre.
Após a derrota em Porto Alegre, em 1835, os Farrapos triunfaram em 1836 na Batalha do Seival, onde General Antônio de Souza Netto Proclama a República Rio-Grandense. Mas ainda em 1836, na emboscada do Rio Jacuí, as principais lideranças do movimento são capturadas pelo General Bento.
Apesar da prisão dos líderes do movimento a luta continuou, e em 1837 o novo presidente da província, Antônio Ferreira reprende os simpatizantes do movimento. O que levou a um ânimo geral dentro do movimento. O General Bento Manuel troca de lado e captura Antônio Ferreira, na mesma época Bento Gonçalves foge da prisão.
Em 1839, os Farrapos começavam a enfrentar maiores dificuldades, não conseguindo capturar grandes cidades. Também nesse período eles enfrentam o fim da República Juliana que foi declarada em julho, e quatro meses depois é reanexada pelo império, em Santa Catarina.
Nos cinco anos seguintes, os revoltosos foram derrotados continuamente. Bento Manuel troca de lado novamente reconhecendo o governo provincial de Duque de Caxias. Em primeiro de março de 1845, a paz é assinada junto ao governo provincial de Davi Canabarro.