Se o seu objetivo é construir textos mais coesos e mais coerentes, é muito importante que você domine as regras de regência verbal.
A regência norteia a relação que se estabelece entre duas palavras de um mesmo enunciado, definindo-se um termo regente e um termo regido.
Para ficar mais simples de entender, vamos ver o que os gramáticos Lindley Cintra e Celso Cunha dizem sobre o assunto:
Essa relação necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais serve de complemento a outra, é o que se chama regência. A palavra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente.
Lindley Cintra e Celso Cunha
A regência pode se ater aos nomes, sendo considerada nominal, ou aos verbos, passando a ser classificada como verbal. No próximo tópico, explicaremos com mais detalhes as diferenças entre elas. Vamos lá?
Regência verbal e regência nominal
Como dito, a regência nominal estabelecerá a conexão entre os nomes (substantivos, adjetivos e advérbios).
Tanto na regência nominal quanto na verbal, essa conexão é geralmente estabelecida por uma preposição, que atua como elemento de ligação entre dois termos.
Para ficar mais claro, vamos dar uma olhada no exemplo a seguir:
- Sou muito grato a você pela ajuda que você me deu.
Perceba que o adjetivo “grato” é acompanhado pela preposição “a”, estabelecendo uma conexão com o pronome “você”, a essa relação damos o nome de regência nominal.
Na regência verbal, essa conexão se dá entre o verbo e o seu complemento (ou a ausência deste), seja ele um objeto direto ou um objeto indireto.
Vejamos mais um exemplo:
- Gostamos do bolo que você fez.
Note que o verbo “gostar” é um verbo transitivo indireto (quem gosta, gosta de alguém ou de alguma coisa), exigindo, portanto, o objeto indireto “do bolo”.
Agora que a distinção já foi feita, conversaremos com mais detalhes sobre os fatores envolvidos na regência verbal.
Regência verbal
No tópico anterior, vimos que a regência verbal guia a relação entre os verbos e os seus complementos.
Um verbo pode ser intransitivo (não pede complementos), transitivo direto (pede um objeto direto) ou transitivo indireto (pede um objeto indireto).
Abaixo, detalharemos cada uma dessas categorias.
Verbo intransitivo
Os verbos intransitivos têm sentido completo, por isso não necessitam de complemento verbal.
Atente-se ao exemplo abaixo:
- O neném nasceu.
Perceba que o verbo “nascer” não pede um complemento, sendo considerado, portanto, intransitivo.
Verbo transitivo direto
Ao contrário dos verbos intransitivos, os verbos transitivos diretos pedem um complemento verbal: o objeto direto.
Observe o exemplo abaixo:
- A senhora comprou uma chaleira.
Veja que o verbo “comprou” pede um complemento sem preposição (quem compra, compra alguma coisa), que, aqui, é ocupado pelo objeto direto “uma chaleira”. Por isso, o verbo é classificado como transitivo direto.
Verbo transitivo indireto
Vamos retomar a um dos exemplos apresentados anteriormente.
- Gostamos do bolo que você fez
Como dito, o verbo “gostar”, sendo transitivo indireto (quem gosta, gosta de alguma coisa), pede um complemento acompanhado de preposição, aqui ocupado pelo objeto indireto “do bolo”.
Normalmente, as dúvidas sobre regência verbal recaem sobre o uso das preposições que acompanham os objetos indiretos.
Geralmente, utilizamos a preposição correta naturalmente. Alguns verbos, entretanto, necessitam de atenção especial, pois as confusões referentes à regência deles é recorrente.
A regência de alguns verbos
Abaixo, separamos uma lista com os principais verbos que geram dúvidas em relação a sua regência. Vamos e ela?
Agradar
Quem agrada, agrada alguém ou a alguém?
Os dois! Depende do sentido do verbo. Quando o verbo agradar carregar o sentido de “ser agradável”, “ter agradado” ou de “deixar satisfeito”, o verbo é transitivo indireto.
Exemplo:
- A partida agradou ao torcedor.
Agora, se o verbo agradar tiver o sentido de “fazer agrado”, deve ser considerado transitivo direto.
Exemplo:
- Nós agradamos os nossos clientes com brindes.
Alertar
Quem alerta, alerta alguém ou a alguém?
O verbo alertar é transitivo direto e indireto, ou seja, pede um objeto direto e um objeto indireto.
Exemplo:
- A juíza alertou o técnico sobre o risco de expulsão do jogador.
Nesse exemplo, temos o objeto direto “o técnico” e o objeto indireto “sobre o risco de expulsão do jogador”. Então, respondendo à pergunta, quem alerta, alerta alguém sobre (ou de, ou contra) algo.
Aspirar
O verbo aspirar também é um verbo que pode ser transitivo direto ou transitivo indireto, a depender do seu significado.
Se o verbo aspirar carregar o sentido de inspirar, ele será transitivo direto.
Exemplo:
- O bombeiro aspirou a fumaça do incêndio.
Caso o verbo aspirar tenha o significado de ascender, ela será transitivo indireto.
Exemplo:
- Felipe aspira ao cargo de diretor chefe.
Assistir
Por se tratar de um verbo de uso cotidiano, é bastante comum termos dúvidas ao utilizar o verbo assistir. Assim como alguns dos verbos anteriores, a regência do verbo assistir também depende do seu significado.
Quando carregar o sentido de presenciar ou ver algo, ele será transitivo indireto.
Exemplo:
- Vamos assistir a um filme hoje à noite?
Agora, se tiver o sentido de ajudar ou amparar, será transitivo direto.
Exemplo:
- O neto assistiu à avó no pós-cirúrgico.
Lembre-se que não há problema nenhum caso você utilize a forma “assistir o filme” nas conversas do dia a dia, mas nos textos escritos você deve se ater à regência postulada pela norma padrão.
Atender
Quem atende, atende alguém ou a alguém?
Tanto faz, pois a regência do verbo atender é facultativa, então cabe a você decidir se incluirá a preposição ou não.
Exemplo 1:
- Você não atendeu os meus telefonemas ontem à noite.
Exemplo 2:
- Você não atendeu aos meus telefonemas ontem à noite.
Durante o texto, conversamos sobre a concepção de regência verbal, relembrando o conceito de transitividade verbal e detalhando a regência de alguns verbos.
Como você deve ter percebido, este artigo é um material de consulta, então não se preocupe caso você não consiga decorar as regências de todos os verbos.
Com o tempo e o uso recorrente, você vai assimilar naturalmente a regência e os usos de cada um deles.
Veja também:
- Acentuação e ortografia;
- Figuras de linguagem;
- Orações Subordinadas;
- Orações Coordenadas;
- Concordância Verbal;
- Substantivos.
Referência
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. [s.l.] Lexikon, 2016. https://books.google.com.br/books?id=vSf3zQEACAAJ