As figuras de linguagem são recursos estilísticos utilizados para transmitir mensagens que extrapolam a linguagem literal. Elas aparecem, principalmente, em textos ficcionais, mas você também vai encontrá-las, aqui e ali, nas conversas do dia a dia.
Cada uma das figuras de linguagem é capaz de criar efeitos de sentidos diferentes. Elas podem ser as responsáveis por criar contrastes, por exemplo, ou ser o gatilho do humor de um texto.
Neste artigo, exploraremos as figuras de linguagem minuciosamente, detalhando as suas particularidades e trazendo exemplos práticos para cada uma delas.
Quais são as figuras de linguagem?
As figuras de linguagem são classificadas em figuras de semântica, de sintaxe e de som/fonética.
Cada subclassificação está relacionada a um aspecto diferente do texto.
As figuras de semântica estão ligadas ao sentido do enunciado; as figuras de sintaxe estão relacionadas à estrutura frasal e as figuras de som/fonética estão associadas aos aspectos fonéticos e fonológicos das palavras.
Nos próximos tópicos, examinaremos com mais detalhes as principais figuras de linguagem. Vamos lá?
Comparação ou símile
Na comparação (também chamada de símile), cria-se uma relação de semelhança explícita entre dois elementos. Vejamos o exemplo abaixo.
Exemplo:
- O seu coração é como uma pedra.
Note que o termo “pedra” empresta suas características à palavra “coração“, ou seja, é comparado a ela.
A comparação sempre será estabelecida por uma conjunção comparativa. No caso apresentado, a conjunção utilizada foi o “como“.
Metáfora
Você com certeza já ouviu falar da metáfora nas suas aulas de Português.
Ela é considerada a mãe das figuras de linguagem e é utilizada com bastante frequência nos textos literários.
A metáfora é um tipo de comparação mais refinada. Nela, as coisas comparadas se misturam, ou seja, os elementos se entrelaçam, criando algo novo. Observe o exemplo abaixo.
Exemplo:
- Aquela menina é uma flor.
Perceba que o termo “flor” empresta suas características à palavra “menina“, estabelecendo uma espécie de comparação em que os dois elementos não conseguem ser dissociados.
Ah, é importante lembrar que, na metáfora, as conjunções comparativas não aparecem, então fique atento a isso, ok?
Alegoria
Na alegoria, fala-se sobre algo, mas falando de outra coisa. Ficou confuso? Calma. Não é tão difícil de entender.
Um ótimo exemplo de alegoria é o mito da caverna, de Platão. No texto do filósofo, a caverna é utilizada como alegoria para a ignorância humana, mas a ignorância humana, em si, não é citada. Entendeu?
De acordo com alguns estudiosos, a alegoria pode ser considerada um tipo de metáfora expandida. Na alegoria, a metáfora é destrinchada, ou seja, as comparações feitas extrapolam os elementos em jogo.
A alegoria é uma figura de linguagem muito comum em fábulas, parábolas, ditados populares e em textos mitológicos.
Exemplo:
- Em rio de piranhas, jacaré nada de costas.
Catacrese
Na língua, não há palavras para dar significado para tudo.
Em situações como essa, quando precisamos, mesmo assim, atribuir sentido a algo, pegamos emprestado, por associação, uma palavra que se encaixe no contexto.
Alguns exemplos de catacrese são “pé da mesa”, “braço do sofá”, “sapato de bico fino”, “pele do tomate” e “céu da boca”.
Note que a catacrese é uma metáfora que se tornou natural. Não é à toa que a metáfora é a mãe das figuras de linguagem, né?
Metonímia
Na metonímia, trocamos uma palavra por um termo relacionado. Vejamos mais um exemplo.
Exemplo:
- Ela estava tão triste que acabou com a caixa de chocolate.
Na frase citada, temos a troca do continente (aquilo que contém), isto é, a caixa, pelo conteúdo, ou seja, o chocolate. Simples, não?
Antonomásia
Quando substituímos um nome próprio (de pessoas, principalmente) por outro que evoca seus atributos, temos uma antonomásia.
Ótimos exemplos de antonomásia são “o rei do futebol” (Pelé), o rei do pop (Michael Jackson) e o Rei (Roberto Carlos).
Trocando em miúdos, a antonomásia acontece quando usamos um apelido. Esse apelido pode evocar características, ou situações e circunstâncias atreladas à pessoa, como em “Dama de Ferro” (Margareth Tatcher) e “poeta dos escravos” (Castro Alves).
Perífrase
Na perífrase, assim como na antonomásia, substitui-se um nome próprio por outro, geralmente mais extenso.
A palavra perífrase vem do grego períphrasis, que significa falar em círculos. É por isso que a perífrase também é chamada de circunlóquio, que é o ato de falar em rodeios.
Alguns exemplos de perífrase são “o país do carnaval” e o “país do futebol” (em referência ao Brasil). É importante que você entenda que a função da perífrase não é tornar o texto prolixo, ou seja, “encher linguiça”, mas sim agregar camadas de sentido ao termo substituído.
Hipérbole
A hipérbole é a figura de linguagem do exagero, sendo muito simples de identificar. Veja o exemplo abaixo.
Exemplo:
- O filme me fez morrer de rir.
Observe que o interlocutor exagera ao utilizar o verbo “morrer“, pois ninguém morre de rir. O objetivo aqui, como você deve ter percebido, é acentuar o quão engraçado o filme foi para quem o assistiu.
Eufemismo
O eufemismo é uma figura de linguagem utilizada para amenizar uma informação.
Na linguagem popular, o eufemismo é bastante utilizado para anunciar a morte de alguém. É comum que as pessoas usem expressões como “bateu as botas”, “vestiu o paletó de madeira”, “virou estrela”, dentre outras.
Essas formas alternativas são consideradas eufemismo.
Antítese
A antítese também é uma figura de linguagem simples de se identificar. Nela, temos dois elementos opostos, ou que se contrapõem. Observe o exemplo abaixo:
Exemplo:
- Eu fiquei entre a vida e a morte.
É fácil perceber que, no exemplo citado, temos uma antítese, pois os elementos contrastantes: “vida” e “morte” são muito claros.
Paradoxo ou oxímoro
No paradoxo, também somos apresentados a ideias opostas, mas, ao contrário da antítese, elas geram contradição.
Um ótimo exemplo de paradoxo são os que encontramos nos poemas de Camões. Vamos ler um trechinho?
Amor é fogo que arde sem se ver,
Luís de Camões
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
No mundo real, não existem chamas invisíveis, muito menos uma dor que não se sinta. As ideias criadas pelo poeta são irreconciliáveis, ou seja, paradoxais.
Prosopopeia
A prosopopeia, mais conhecida como personificação ou animismo, acontece quando características, sensações, sentimentos e comportamentos humanos são conferidos a seres inanimados, ou irracionais. Veja o exemplo abaixo.
Exemplo:
- Diante da tragédia da família, até o céu chorou.
No trecho “o céu chorou“, temos uma prosopopeia, pois o choro, uma característica dos seres animados, foi atribuído ao céu, que não tem vida.
Pleonasmo
O pleonasmo é uma figura de linguagem bastante recorrente nas conversas do dia a dia. Resumidamente, comete um pleonasmo quem é redundante.
Alguns exemplos comuns de pleonasmo são “subir pra cima”, “descer pra baixo”, “sair pra fora” e “entrar pra dentro”.
O pleonasmo pode ser utilizado de maneira estilística (na literatura, por exemplo), mas, de modo geral, é recomendável evitá-lo.
Sinestesia
Na sinestesia, ocorre a mistura dos sentidos (tato, visão, paladar, olfato e visão). Vamos dar uma olhada no exemplo abaixo para entender melhor.
Exemplo:
- O assassino encarou a vítima com um olhar gélido.
Perceba que a expressão “olhar gélido” evoca a visão (olhar) e, ao mesmo tempo, o tato (gélido), criando um contexto sinestésico.
A sinestesia é uma figura de linguagem muito presente na literatura e, também, na publicidade.
Ironia
Em uma frase irônica, diz-se algo querendo dizer o contrário. A identificação da ironia depende muito de elementos prosódicos, ou seja, da entonação e, às vezes, da gestualização do enunciante.
No diálogo abaixo, temos um exemplo de ironia:
— Mãe, eu estourei o limite do cartão de crédito.
— Ah, mas que notícia maravilhosa!
Note que, na resposta da mãe, ela diz que a notícia recebida é maravilhosa, quando, na verdade, não é.
Gradação
Na gradação, utiliza-se um encadeamento de palavras ou expressões para se reforçar uma ideia. Veja o exemplo abaixo.
Exemplo:
- Estava muito calor, um forno, um clima infernal.
Como você deve ter notado, as ideias são colocadas em sequência para ressaltar que a temperatura estava, de fato, alta.
Hipérbato
O hipérbato está ligado à construção sintática, ou seja, à estrutura frasal.
Temos um hipérbato quando a estrutura convencional da oração (sujeito + verbo + complemento) é invertida, como no hino nacional, por exemplo.
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Hino nacional brasileiro
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se colocado na ordem direta, o trecho ficaria: O sol da Liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da Pátria nesse instante.
Anacoluto
O anacoluto também é uma figura de linguagem ligada à sintaxe, sendo bem comum na fala cotidiana.
No anacoluto, há uma quebra sintática, com a inserção de uma nova sentença no meio da oração, o que torna parte do período sintaticamente disfuncional.
Não entendeu nada? Dá uma olhada nesse exemplo:
Exemplo:
- Esses seus modos, esse seu jeito de ser me incomoda!
Perceba que, após a parte negritada, houve uma quebra na estrutura sintática, indicada pela vírgula. Após esse rompimento, é iniciada uma nova oração (esse seu jeito me incomoda), que não tem correlação sintática com o início da frase.
Como dito, o anacoluto costuma aparecer com frequência nas conversas do dia a dia, mas é recomendável evitá-lo nos textos escritos que devem ser regidos pela norma padrão.
Apóstrofe
Na apóstrofe, há a inserção de um vocativo para indicar um chamamento.
Na oração abaixo, temos um exemplo do uso da apóstrofe:
Exemplo:
- Senhor, tende piedade de nós!
Note que o interlocutor chama pelo “Senhor”, o que indica o uso de um vocativo.
Silepse
Nas silepses, as concordâncias verbais e nominais são feitas de maneira lógica, deixando de lado o que sugere a norma gramatical. Vejamos mais um exemplo.
Exemplo:
- A equipe chegou atrasada e falavam em tom elevado.
Em uma equipe, subentende-se que existam muitas pessoas. É por isso que o verbo “falavam” está flexionado no plural, concordando ideologicamente com “a equipe”, mesmo que a expressão, em si, esteja no singular.
Quando isso acontece, dizemos que ocorreu uma silepse.
Elipse
Nas elipses, existe a omissão de um termo da oração, que, por conta da construção frasal, pode ser facilmente identificado.
Na oração abaixo, temos um exemplo de elipse:
Exemplo:
- Tropecei no buraco e quase caí.
Na frase utilizada como exemplo, houve a omissão do sujeito (eu), que pode ser identificado por meio da desinência do verbo “tropecei”, que está na primeira pessoa do singular.
Zeugma
A zeugma é um tipo de elipse, mas, nele, o termo omitido havia sido citado anteriormente.
Exemplo:
- Aline bebeu suco, eu, refrigerante.
Note que houve a omissão do verbo “bebi”, o que indica o uso da zeugma.
Assíndeto
No assíndeto, existe a omissão de uma conjunção. A oração utilizada para exemplificar a zeugma também cabe como exemplo aqui.
Exemplo:
- Aline bebeu suco, eu, refrigerante.
Veja que, se fossemos desenvolver a oração, teríamos: “Aline bebeu suco e eu bebi refrigerante”. Logo, a conjunção aditiva “e” foi omitida, sendo substituída por uma pausa, indicada pela vírgula.
Polissíndeto
No polissíndeto, há a repetição de conjunções. É uma figura de linguagem bastante comum na linguagem cotidiana, sendo utilizada, também, na literatura.
Exemplo:
- Eu quero arroz, e feijão, e salada, e lasanha.
Perceba que aqui houve a repetição da conjunção aditiva “e“, ou seja, um polissíndeto.
Chegamos ao fim da nossa conversa sobre figuras de linguagem. Espero que a leitura deste artigo tenha sido produtiva para você. Não se esqueça de salvar esta página como favorita para consultas futuras.
E bons estudos!
Veja também:
Referência
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. [s.l.] Lexikon, 2016. books.google.com.br/books?id=vSf3zQEACAAJ