Guardando segredo aqui, você consegue entender bem o que foi a Idade Média? E o Feudalismo, você saberia dizer quais as principais características desse modo de organização social? Não?
Por isso, vamos falar mais sobre o Feudalismo explicando quais foram as reverberações políticas e econômicas para a história.
Entendendo a cronologia do Feudalismo
Como dito, o feudalismo é um sistema social que vigorou por muitos anos, se iniciando no século III d.C. e sobrevivendo aproximadamente até o século XV d.C., ou seja, 1200 anos.
O surgimento do feudalismo é decorrente em grande medida do declínio do Império Romano, a crise econômica enfrentada no século III levou a uma fragilização do governo e dos territórios. Invasores germânicos (bárbaros) aumentaram os ataques as fronteiras romanas, a guerra levou os senhores romanos a se afastarem das cidades e se refugiarem nas terras rurais.
A partir dessas terras rurais foram surgindo vilas e centros rurais, se tornando atrativos para pessoas em busca de proteção e sustento. Assim, gradualmente se formavam os feudos, blocos sociais que se organizam a partir da terra.
A transição completa do modelo escravocrata romano para o feudalismo na Europa Ocidental se deu por volta do século VII, sendo o apogeu desse modelo social em torno do século X.
A sociedade feudal consolidada se dividia em três camadas sociais estanques, ou seja, não existia modo de um membro de uma camada pertencer a outra:
- Nobreza — normalmente eram os donos de propriedades, como os senhores feudais, os vassalos, e no topo o próprio rei;
- Clero — era composto pelos membros da Igreja Católica;
- Servos — camponeses que trabalhavam para a própria subsistência, a maior parte da população europeia na época.
Ainda seria possível falar de algumas pessoas livres dos deveres para com os senhores feudais, assim como pequenos comerciantes. No entanto, essas pessoas eram uma minoria numérica e não tinham um papel formal dentro da sociedade feudal.
Conceito de Idade Média
Para entender totalmente a importância do feudalismo como sistema de organização político, econômica e social é fundamental compreender onde isso se entrelaça com a Idade Média.
A história da humanidade foi dividida em quatro grandes fases, cada fase é representante de algum momento de transformação social importante. Apesar dessa divisão ser muito eurocêntrica é ainda comum utilizar a nomenclatura, principalmente se tratando da história da Europa. A Idade Média é o período que se estabelece entre a Idade Antiga e o Renascimento, se estendendo entre os séculos V e XV.
É durante o período de consolidação do feudalismo que a Idade Média vai se estruturar na Europa. Será um momento de forte influência da Igreja Católica, crises sanitárias, reinados baseados na vassalagem e grandes avanços tecnológicos no cultivo e manejo da terra.
Conhecida também como Idade das Trevas, apelido carinhoso que os renascentistas designam ao período.
Alta Idade Média
A Idade Média pode ser dividida em dois blocos, a Alta Idade Média, que se estende do século V até o século X, enquanto a Baixa Idade Média se refere aos anos entre o século X e XV.
A Alta Idade Média historicamente vai se iniciar no século V, mas lembre-se em história nada vem por acaso, não é porque essa data foi escolhida que a sociedade do século IV era totalmente diferente. A grande mudança do século V é a ruralização, onde a população migra para as regiões rurais.
Com isso, o número de pessoas morando nas cidades decaí drasticamente, assim como a população geral da Europa durante toda a Idade Média em comparação com o período do Império Romano.
O sistema econômico que se forma dentro das propriedades rurais é baseado na servidão e vassalagem, ou seja, na troca de proteção pelo uso da terra e mão de obra, e na troca de dever militar pela proteção dos senhores feudais superiores.
Esse sistema econômico desvaloriza o comércio e a moeda, já que ninguém precisava sair do feudo para poder sobreviver. Além disso, o feudo vai se tornar uma estrutura independente das demais, o que vai exigir dos monarcas um reinado apoiado pelos senhores feudais, buscando a garantia de conservação militar e econômica.
Mas como nada no mundo é perfeito, durante a Alta Idade Média algumas características desvantajosas se fizeram presentes. Com a baixa populacional e a ruralização da economia a produção em toda a Europa sofre queda, o que vai levar a um problema persistente em toda a Idade Média, a fome. Nem mesmo os nobres e clérigos viviam com muito conforto.
O Reino dos Francos
Os famosos bárbaros que atacaram o Império Romano eram compostos de muitas etnias e naturalidades culturais, a maioria deles não prosperou após a ocupação dos territórios romanos. A exceção a essa regra foram os Francos que chegaram a ocupar oito países europeus atuais.
Os Francos foram responsáveis pelo redesenho da Europa ao longo dos reinados e impérios que detiveram naquelas terras. A Dinastia Merovíngia vai se estabelecer assim que o Império Romano decaí, e vai ser responsável pela expansão territorial dos Francos por toda a Europa.
Enquanto o Império Carolíngio vai comandar a Europa e ser o responsável pelo estabelecimento das alianças políticas, expansão cultural e conservação territorial.
É graças aos Francos que se inicia o incentivo as universidades e organizações de ensino em grande parte aliadas a Igreja Católica. Essas instituições foram fundamentais para guardar os trabalhos culturais anteriores a Idade Média.
O reinado franco perde poder ao longo do século VIII e IX, mas as raízes políticas do feudalismo já tinham se estabelecido.
Feudalismo
Estamos falando do feudalismo de um modo bem genérico, agora nessa seção vamos enfocar melhor quais os meios e os sistemas que estruturam e organizaram esse modelo social.
Política
A política durante o feudalismo era dependente do sistema de vassalagem. Vamos lembrar aqui, o feudalismo era baseado no regime de terras, quem mais terra possuía consequentemente tinha mais poder. Que pessoa melhor para ter a maior quantidade de terras que o próprio rei?
Pois é, o rei era a figura central em termos de ceder terras aos membros da nobreza, duques, duquesas, conquistadores militares. À terra era dada como prêmio pelos serviços e conquistas para o reino, desde que o premiado jurasse fidelidade a coroa.
Em outras palavras, o rei permitia o uso da terra com condição da vassalagem, a garantia de apoio militar e econômico.
Os senhores feudais também replicavam o mesmo sistema se aproximando de feudos menores e prometendo proteção econômica em troca da proteção militar. Desse modo, se formou uma teia toda baseada na proteção, seja econômica ou militar.
Ainda é importante mencionar que as regras políticas podiam variar de feudo para feudo, já que estes eram autogovernados.
Economia
Economia e política sempre se entrelaçam, os jogos políticos acabavam ficando nas mãos do Clero e da Nobreza, sendo que base econômica de tudo isso se garantia através dos servos. Sempre dentro de um sistema agrário de produção.
Nessa história, tudo que os servos produziam era divido com o senhor feudal, às vezes no sistema de 50%. E durante a semana eles trabalhavam de graça numa porção de terra para o sustento do senhor feudal. Ainda restava um imposto pagado para Clero, que também era baseado na produção. Acaba que os servos alimentavam todo o sistema feudal.
Alguns homens livres não precisam pagar tantos impostos porque não se ligavam diretamente ao um senhor feudal que lhes devia proteção. Esses homens podiam se deslocar entre feudos, desde que destinassem uma pequena parcela da produção e em alguns casos a promessa de proteção militar para o senhor feudal.
O comércio em primeiro momento perde forças porque a moeda passa a ter pouco valor. Os feudos somente vendiam os excedentes da produção, e como a produção era baixa, muito pouco se comercializava.
Expansão do Feudalismo
A expansão do Reino Franco pela Europa vai influenciar no intercambio cultural e na falência dos centros urbanos, principais focos de batalha. Essa movimentação continua até aproximadamente o século VIII, quando o Reino Franco perde força e o modelo feudal se consolida.
Nos próximos dois séculos o feudalismo vivencia o próprio apogeu, tendo a Europa toda organizada a partir desse modelo. No início do século X as técnicas de cultivo e manejo do solo passam por aprimoramentos com o moinho e o arado, proporcionando um aumento da produção agrícola e da população europeia.
Expansão comercial e urbana
Ao contrário do que parece, o incremento da produção agrícola foi um dos fatores que levam a crise do sistema feudal. Agora que a produção tinha aumentado, as redes comerciais começaram a ser ativadas com maior frequência, a moeda volta a ganhar peso dentro da sociedade feudal.
Com isso, as vilas e comunidades agrícolas começaram a se ampliar para além dos muros dos feudos, as cidades voltaram a ativa e a vida urbana começou a ser mais interessante do que a rural. Os feudos foram se esvaziando de servos, alguns fugiam para as cidades, outros ganhavam dinheiro o suficiente para comprar a própria liberdade e independência.
As rotas comerciais voltaram a ativa e o isolamento econômico europeu começou a ser quebrado pela expansão urbana e comercial.
Cruzadas
Já na Baixa Idade Média, quando a expansão comercial feudal começou, a Europa enfrentava uma ameaça muçulmana vinda do oriente. No século XI os muçulmanos haviam conquistado a região da Palestina, conhecida como Terra Santa pela Igreja Católica, e iniciavam os sintomas de um enrijecimento para com a Europa Católica.
Foram proibidas as peregrinações católicas até a região. Somado a isso, a Igreja Católica vivia uma divisão entre Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, provocada pela Cisma do Oriente.
Vendo nessa situação uma possibilidade de unificar novamente a Igreja Católica, o Papa Urbano I convoca toda a população para uma investida militar visando recuperar à Terra Santa.
Para além da faixada religiosa, as Cruzadas também se casavam com o momento de pressão da população da Europa, as terras cultiváveis começavam a se esgotar e os senhores feudais estavam interessados em ampliar os feudos para o oriente.
Com o início do reavivamento econômico, que também era de interesse dos comerciantes com os produtos que poderiam vir do oriente, assim como as rotas comerciais que iriam se abrir, os comerciantes também apoiaram a investida.
Foram empreendidas oito grandes cruzadas entre XI e XIII, algumas foram bem-sucedidas nos objetivos religiosos, outras trouxeram vantagens políticas e econômicas. Os cruzados variavam, tendo homens comuns, servos, vassalos, cavaleiros e até reis como representantes das investidas militares. Mas em linhas gerais, o principal sucesso das cruzadas foi em ampliar e abrir as rotas comerciais.
A crise do Feudalismo
Então vamos rever aqui onde o modelo feudal se encontra no início do século XIV. A melhoria das habilidades de cultivo aumentou a população e os excedentes da produção, reavivando o comércio. A moeda volta a ganhar valor, principalmente com o restabelecimento de rotas e trocas comerciais decorrentes das Cruzadas.
Muitos servos e vassalos fugiam para os centros urbanos e a mão de obra começava a ficar escassa. Será que isso era o início de uma crise?
Com toda certeza! O modelo feudal começa a chegar ao fim e enfrentar um declínio proporcionado pelas transformações dentro da sociedade europeia.
Peste, fome e guerra
No início do século XIV, a Europa enfrentou uma crise climática que fez cair a produção agrícola que vinha em alta. Com a pressão populacional e a pouca comida, o resultado foi a fome. As classes sociais mais baixas, principalmente os servos se viram entregues à miséria e ao enfraquecimento decorrente da fome.
Quase concomitante a crise de abastecimento, chega através da rota da seda a Peste Negra, transmitida pelas pulgas que se alojavam em ratos. Como as condições gerais da população europeia era de miséria e as condições de higiene eram péssimas, a peste acaba rapidamente se espalhando.
Ao contrário da fome, a Peste Negra não escolhia classe social e dizimou um terço da Europa, cerca de 200 milhões de pessoas na Eurásia.
Também entre o século XIV e XV várias guerras estouraram dentro dos territórios europeus. A Guerra dos Cem Anos, a Guerra das Duas Rosas e a Guerra da Cristandade são alguns exemplos de conflitos bélicos que exigiram investimentos dos reinados europeus.
As revoltas camponeses
Com fome, morrendo de peste e sobre a ameaça constante de conflitos militares, os camponeses que ainda viviam nos feudos começaram a se rebelar contra os senhores feudais. Os senhores feudais vinham falhando em garantir a proteção e subsistência dos servos.
Sem o apoio dos reis e com o esvaziamento da proteção militar decorrente da morte dos vassalos nas guerras, os senhores feudais se encontravam em uma situação desfavorável. Muitas das revoltas camponeses levaram ao fim dos feudos. O sistema feudal inicia o século XV moribundo e a espera gradual do próprio fim.
Igreja Medieval
Durante toda a Idade Média, a Igreja Católica teve uma importante influência na organização e manutenção do modelo de feudalismo. Através do Concílio de Niceia, em 325, as bases teóricas e ideológicas da Igreja se fundaram, o que facilitou o processo de expansão por toda a Europa.
A organização feudal em três camadas sociais se assemelhava a noção da Santíssima Trindade, assim como a imobilização social era reflexo da crença de dom e destino.
A Igreja também adquiriu grande poder econômico e político a partir da doação de terras pelos senhores feudais, ou pela conversão de senhores ao cristianismo e ao clérigo. Também é nesse período que surge a divisão hierárquica da Igreja e o papel dela em frente a julgamentos. O Tribunal do Santo Ofício é fruto da perseguição aos hereges no século XIII.
Ainda é importante mencionar que o conhecimento ficou restrito aos membros da Igreja. Até mesmo os senhores feudais eram em sua maioria iletrados, com isso a transcrição, conservação e produção de conhecimento ficou fechada na Igreja Medieval.
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são exemplos de religiosos que construíram a pedagogia do cristianismo influenciados pelos filósofos gregos.
Cultura Medieval
A cultura que mantinha a liga de costumes e crenças na sociedade medieval foi fortemente influenciada pela Igreja Católica. As escolas e o ensino eram de responsabilidade do clero e na maioria das vezes somente o ensino religioso era permitido.
A língua oficial era o latim e todas as leituras eram feitas em público, já que a maioria da população era analfabeta.
A ciência não progrediu muito durante a Idade Média, devido à má qualidade das traduções e as proibições impostas pela Igreja aos métodos e experimentos científicos. A filosofia, por outro lado, vai ver nascer a Escolástica, na literatura o estilo do Trovadorismo e do Humanismo foram os predominantes.
A arquitetura talvez seja a que mais se desenvolveu, as obras arquitetônicas eram em sua maioria templos, monastérios, igrejas e catedrais inspiradas no estilo romântico ou gótico.
Como você já deve ter percebido o feudalismo se mistura com a Idade Média. Vários são os fatores que vão mudar a sociedade europeia durante esse período, esperamos que tenha ficado mais fácil para você compreender e elencar alguns deles.
Texto: Verônica, Humanidades.