Para muitos, a concordância verbal é considerada um tópico gramatical árduo e difícil de aprender. Afinal, são muitas regras e decorá-las parece ser um trabalho longo e pouco recompensador.
Com o objetivo de desconstruir esse mito, fizemos um apanhado bem completo que vai acabar com todas as suas dúvidas sobre a concordância verbal. Vamos lá?
Afinal, o que é a concordância verbal?
Como o nome já diz, a concordância verbal rege as relações de concordância entre o verbo e o sujeito da frase.
Para ficar mais claro, vamos ver o que os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra dizem sobre a concordância verbal:
A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterioriza-se na concordância, isto é, na variabilidade do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.
Celso Cunha e Lindley Cintra
De início, é importante que você assimile que, na maioria dos casos, o verbo concordará com o sujeito, ou seja, será “solidário” a ele, como apontaram os gramáticos.
Caso você não se lembre, os verbos podem ser flexionados de quatro maneiras: pessoa, número, tempo e modo. A concordância verbal vai reger somente a flexão de número (singular e plural) e de pessoa (1ª, 2ª e 3ª).
Vamos ver como isso acontece na prática?
Exemplo:
- O pássaro visitou o jardim de dona Maria.
Perceba que, no exemplo apresentado, o verbo “visitou” concorda com o sujeito “o pássaro” tanto em número (singular) quanto em pessoa (3ª pessoa).
Importante: caso você não esteja familiarizado com o conteúdo de flexão verbal, vale dar uma revisada no assunto antes de continuar a leitura.
Nos próximos tópicos, conversaremos sobre como as variações na estrutura do sujeito influenciam na concordância verbal.
Sujeito simples
Caso você tenha esquecido, o sujeito simples é aquele que tem um núcleo só, como no período do exemplo dado anteriormente. Vamos relembrá-lo?
Exemplo:
- O pássaro visitou o jardim de dona Maria.
Aqui, o nosso sujeito “o pássaro” só tem um núcleo: “pássaro”. Nesse caso, o verbo concorda com o sujeito, ficando na terceira pessoa do singular. Mamão com açúcar, né?
Sujeito composto
Não sei se você se lembra, mas o sujeito composto é aquele que tem dois núcleos. Quando lidamos com esse tipo de sujeito, as regras mudam um pouquinho.
Nesses casos, a flexão que o verbo vai sofrer depende da sua posição em relação ao sujeito, como veremos abaixo.
Sujeito composto anteposto
O sujeito composto é anteposto quando aparece antes do verbo, ou seja, na ordem direta.
Vejamos mais um exemplo:
- O cachorro e o gato não param de brigar.
No período usado como exemplo, nosso sujeito “o cachorro e o gato” tem dois núcleos: “cachorro” e “gato”, sendo, portanto, classificado como sujeito composto. Sua posição, como vimos, é anterior ao verbo, ou seja, anteposta.
Nesse caso, o verbo “param” concorda normalmente com o sujeito “o cachorro e o gato”, indo para a terceira pessoa do plural.
Sujeito composto posposto
O sujeito composto é posposto quando aparece depois do verbo.
Quando isso acontece, o verbo pode concordar com ambos os núcleos, indo para o plural, ou somente com o núcleo mais próximo, o que chamamos de concordância atrativa.
Passemos a mais um exemplo.
Exemplo 1:
- Chegaram a mãe e o pai da noiva.
Exemplo 2:
- Chegou a mãe e o pai da noiva.
No primeiro exemplo, o verbo “chegaram” está no plural, pois contempla os dois núcleos do sujeito. No segundo exemplo, ao contrário, o verbo concorda somente com o núcleo “mãe”, que está mais próximo, ficando no singular.
Sujeito composto por pessoas do discurso diferentes
Caso o sujeito seja composto por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve respeitar a seguinte ordem de concordância: 1ª pessoa, 2ª pessoa e 3ª pessoa.
Vejamos outro exemplo:
- Eu e ele fomos ao parque naquela tarde.
Nesse caso, o sujeito tem os seus núcleos compostos por pessoas do discurso diferentes: “eu” e “ele”. Seguindo a ordem de prioridade de concordância, o verbo vai concordar com o pronome “eu”, ficando na primeira pessoa.
Concordância verbal lógica, atrativa e ideológica
Antes de continuarmos, é importante que você entenda que a concordância verbal pode acontecer de maneira lógica, atrativa e ideológica.
A concordância verbal lógica está sendo discutida desde o início do artigo. Ela ocorre quando o verbo concorda em número e pessoa com os núcleos do sujeito.
A concordância atrativa foi citada no tópico de sujeito composto posposto, lembra? Vamos dar uma olhada novamente no exemplo que foi apresentado lá.
Exemplo 2:
- Chegou a mãe e o pai da noiva.
Como vimos, o verbo “chegou” concorda com o núcleo mais próximo, ou seja, “mãe”. Quando isso acontece, dizemos que a concordância foi atrativa.
Na concordância ideológica, o verbo é flexionado de acordo com a ideia que o sujeito carrega. Nesses casos, ocorrem silepses de pessoa e de número, como veremos detalhadamente abaixo.
Silepse de número
A concordância por silepse de número acontece quando o verbo concorda com a ideia de multiplicidade que o sujeito carrega, indo, portanto, para o plural.
Exemplo:
- A equipe chegou atrasada e falavam em tom elevado.
Em uma equipe, subentende-se que existam muitas pessoas. É por isso que o verbo “falavam” está flexionado no plural, concordando ideologicamente com “a equipe”, mesmo que a expressão, em si, esteja no singular.
Silepse de pessoa
A concordância por silepse de pessoa acontece quando o falante se inclui em um sujeito que deveria estar na 3ª pessoa, sendo um caso bastante específico.
Exemplo:
- O brasileiro é um povo persistente: não desistimos nunca!
Note que, apesar de o sujeito “O brasileiro” estar na terceira pessoa, o verbo “desistimos” está na primeira pessoa do plural, pois o enunciante se inclui no discurso.
O verbo ser
De modo geral, o verbo “ser” também costuma concordar com o sujeito da frase, salvo algumas exceções, as quais veremos abaixo.
1 — Quando vier entre dois substantivos, um no singular e o outro no plural, o verbo ser concordará com o substantivo no plural.
Exemplo:
- O neto são os problemas dos avós.
Veja que o verbo “ser” concorda com “os problemas dos avós”, ou seja, o seu predicativo, em vez de concordar com o seu sujeito “o neto”.
2 — Nos casos em que o verbo “ser” for usado para indicar horas, datas ou distâncias, ele será flexionado no plural.
Exemplo:
- Hoje são 10 de outubro.
Vale saber: em se tratando de horas, quando não há sujeito expresso, o verbo deve concordar com o numeral que o acompanha.
3 — Se o sujeito da oração for um pronome reto, o sujeito concordará com ele, independentemente do número (singular/plural) do termo que o acompanha.
Exemplo:
- Ele era as preocupações do pai.
Casos especiais de concordância verbal
Além dos casos abordados anteriormente, existem alguns outros que merecem ser citados.
1 — Se os núcleos dos sujeitos vierem intercalados por expressões como “não só/mas”, “tanto/quanto”, “não só/como”, o verbo vai para o plural ou concorda com o núcleo mais próximo.
Exemplo:
- Tanto o fazendeiro quanto o peão haviam seguido para o sítio.
2 — Caso o sujeito seja composto pela expressão “nem um/nem outro” o verbo ficará no singular.
Exemplo:
- Nem um nem outro compareceu ao exame.
3 — Nos casos em que o sujeito é composto pela expressão “cada um de” seguida de uma palavra no plural, o verbo deve ficar no singular.
Exemplo:
- Cada um dos concorrentes deve entregar as fichas de inscrição para o diretor.
4 — Se houver uma locução verbal, cabe ao verbo auxiliar concordar com o sujeito que o acompanha.
Exemplo:
- As estrelas parecem brilhar.
Chegamos ao fim da nossa conversa, mas o seu trabalho não termina por aqui. Como vimos, as regras de concordância verbal são muitas, então é normal e até esperado que você cometa um erro aqui e outro ali.
Para acelerar o seu processo de aprendizagem, o ideal é que você faça exercícios e treine bastante, assim você assimilará as regras discutidas aqui naturalmente.
Vejam também:
Referência
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. [s.l.] Lexikon, 2016. books.google.com.br/books?id=vSf3zQEACAAJ