As regras de acentuação gráfica e de ortografia assombram muitas pessoas. Se você também faz parte desse grupo, acalme o seu coração, pois, neste artigo, explicaremos detalhadamente as normas que regem esses dois campos da escrita.
É comum que as pessoas decorem a forma como a palavra é escrita, acertando a grafia de uma palavra ou outra, em vez de assimilar as regras em si. Essa prática é completamente normal, pois é assim que aprendemos a ler e a escrever, mas deve ser evitada.
Se é do seu interesse conhecer as regras por trás da ortografia e da acentuação das palavras, continue a leitura. Tenho certeza de que, no final, você vai ter percebido que elas não são tão difíceis assim.
Acento gráfico x acento tônico
Muita gente confunde o acento gráfico com o acento tônico. Os dois estão relacionados, mas são diferentes. O acento tônico (ou sílaba tônica) é a sílaba mais pronunciada de uma palavra. Algumas palavras possuem sua sílaba tônica em uma posição incomum, dificultando a sua pronúncia, por isso, a sua sílaba tônica precisa ser marcada com um acento gráfico.
Feita essa breve explicação, agora partiremos para as regras e para os conceitos que envolvem a acentuação gráfica. Vamos lá?
A acentuação das oxítonas
As oxítonas são palavras que têm como sílaba tônica (sílaba mais forte) a sua última sílaba.
As regras de acentuação das oxítonas são as seguintes: são acentuadas as oxítonas terminadas em a/as, e/es, o/os, em/ens e nos ditongos abertos decrescentes: eu/eus, ei/eis, oi/ois.
Exemplos:
- a/as: aliás, atrás, sabiás;
- e/es: bebê, café, jacarés;
- o/as: retrós, vovô, dominó;
- em/ens: também, harém, parabéns;
- ei, eu e oi: chapéu, heróis, fiéis.
A acentuação das paroxítonas
As paroxítonas são palavras que têm como sílaba tônica a sua penúltima sílaba.
A língua portuguesa tem uma incidência muito maior de palavras paroxítonas do que de palavras oxítonas e proparoxítonas. Por esse motivo, quando nos deparamos com uma palavra que não conhecemos, tendemos a pronunciá-la como paroxítona.
As paroxítonas seguem as seguintes regras de acentuação: são acentuadas as paroxítonas terminadas em r, l, n, x, ps, ã/ãs, ão/ãos, um/uns, om/ons, us, i, is, ei, eis.
Exemplos:
- r: caráter, dólar e ímpar;
- l: difícil, inútil e móvel;
- n: cânon, gérmen, hífen;
- x: clímax, fênix, látex;
- ps: bíceps, tríceps, fórceps;
- ã/ãs e ão/ãos: acórdão, ímã, órfão;
- um/uns e om/ons: álbum, pódium, prótons;
- us: bônus, câmpus, vírus;
- i/is: íris, lápis, tênis;
- ei/eis: difíceis, hóquei, responsáveis.
A acentuação das proparoxítonas
As proparoxítonas são palavras que têm como sílaba tônica a sua antepenúltima sílaba.
As regras que regem a acentuação das proparoxítonas são muito simples: todas as proparoxítonas são acentuadas.
Isso acontece porque a incidência de palavras proparoxítonas na língua portuguesa é muito pequena. Trocando em miúdos, a ausência de acento dificultaria a identificação da sílaba tônica dessas palavras, ocasionando erros de pronúncia frequentes.
Alguns exemplos são:
- música;
- esdrúxula;
- abóbora;
- aborígene;
- acadêmico;
- didático;
- dúvida;
- elétrico;
- eletrônico;
- munícipe;
- nítido;
- protótipo.
Os monossílabos tônicos
Os monossílabos tônicos são palavras que têm uma única sílaba, sendo ela, portanto, a sua sílaba tônica.
As regras de acentuação dos monossílabos tônicos são parecidas com as normas que regem a acentuação das oxítonas. São acentuados os monossílabos tônicos terminados em a/as, e/es, o/os e em eu/eus, ei/eis, oi/ois.
Exemplos:
- a/as: há, pá, pás;
- e/es: pé, pés, dê;
- o/os: nó, nós, pôs;
- eu/eus: céu, réu, véu;
- ei/eis: réis, méis, géis;
- oi/ois: dói, móis, rói.
Os hiatos
O hiato ocorre quando uma vogal, no ato da separação silábica, forma uma sílaba isolada. Quando essa vogal for o “i” ou o “u” (seguido ou não de “s“), ela ganhará acento.
Exemplos:
- saída;
- egoísmo;
- saúde.
Acento diferencial
O acento diferencial é utilizado para distinguir palavras homófonas, ou seja, palavras que são pronunciadas da mesma maneira, mas que têm significados diferentes. Com a chegada do novo acordo ortográfico, muitas dessas palavras perderam o acento.
Alguns exemplos de pares de palavras que mantêm o acento diferencial são:
- pôr (verbo) e por (preposição);
- pôde (verbo conjugado no passado) e pode (verbo conjugado no presente), dentre outros.
As mudanças nas regras de acentuação propostas na reforma ortográfica
O acordo ortográfico mais recente foi assinado em 1990. Faz tempo, né? Continuamos a falar dele, pois, pelo menos aqui no Brasil, as mudanças foram sendo implantadas aos poucos, começando a valer de verdade só em 2015. Hoje, as novas regras já são ensinadas nas escolas e cobradas em provas oficiais.
As mudanças não foram muitas, mas foram significativas. Em relação à acentuação, não houve adições, o que torna as coisas mais fáceis. Algumas palavras, porém, perderam o acento. Vamos dar uma olhada nelas?
O acento nos ditongos abertos ei e oi
Antes do acordo, as palavras paroxítonas terminadas nos ditongos abertos “ei” e “oi” (leia-se: éi e ói) eram acentuadas. Como costumamos dizer popularmente, o acento “caiu”, mantendo-se somente nas palavras oxítonas.
Alguns exemplos de palavras paroxítonas terminadas nos ditongos abertos “ei” e “oi” que não são mais acentuadas são:
- ideia;
- joia;
- boia.
Antes da implementação do novo acordo ortográfico, os ditongos “oo” e “ee” também eram acentuados. Como exemplo de palavras que perderam o acento, temos:
- veem;
- leem;
- voo.
As vogais i e u antes de ditongos e o uso do trema
O acento que aparecia nas vogais “i” e “u” antes de ditongos não existe mais. Alguns exemplos de palavras que passaram a ser escritas sem acento são: baiuca e feiura.
O trema (aqueles dois pontinhos que apareciam em cima do “u“) foi abolido, mas você ainda vai encontrá-lo na escrita de sobrenomes, os quais não seguem as regras gerais de escrita.
Agora que já cobrimos grande parte das questões referentes à acentuação gráfica, passaremos às regras que regem a ortografia.
Ortografia
As regras ortográficas norteiam a maneira como as palavras são escritas. É por causa delas, por exemplo, que usamos “m” antes de “p” e “b” e que algumas palavras são escritas com “x” e não com “ch“.
Nos próximos tópicos, trouxemos alguns dos tópicos referentes à ortografia que mais causam dúvidas nas pessoas. Vamos a eles?
Uso do k, w e y
Não sei se você sabe, mas as letras k, w e y foram adicionadas ao nosso alfabeto por meio do novo acordo ortográfico (aquele que a gente conversou nos tópicos anteriores, lembra?). Sim! Agora o nosso alfabeto conta com 26 letras, em vez de 23. Chique, né?
Mas não é para sair usando as três letrinhas novas indiscriminadamente, viu? Elas são só para ocasiões especiais.
Elas devem ser usadas, por exemplo:
- Em símbolos e siglas: kg (quilograma), km (quilômetro), K (potássio);
- Em nomes próprios e em palavras derivadas: Darwin e darwinismo;
- Em nomes de países, de adjetivos pátrios (ou derivados): Kuwait, kuwaitiano;
- Em estrangeirismos assimilados pela linguagem popular: hobby, feedback, hardware.
Relações entre forma e significado
Como falante da língua portuguesa, você já deve ter percebido que, enquanto algumas palavras têm significado parecido, outras carregam um sentido completamente oposto.
Na grafia, esse tipo de correspondência também é bastante comum. Não é raro encontrarmos palavras que são escritas de modo parecido, mas devem ser utilizadas em contextos completamente diferentes.
Nos próximos tópicos, falaremos um pouco desse tipo de relação, explicando os conceitos de sinonímia, antonímia e homonímia.
Sinonímia
As palavras sinônimas são aquelas que têm significados semelhantes.
Alguns pares de palavras que podem ser consideradas sinônimas são:
- Menina/garota;
- Bicho/animal;
- Pessoa/gente;
- Alfabeto/abecedário;
- Após/depois.
Antonímia
As palavras antônimas são aquelas que têm significados opostos.
Alguns pares de palavras que podem ser consideradas antônimas são:
- sim/não;
- amor/ódio;
- prazer/desgosto;
- tudo/nada;
- fraco/forte.
Homonímia
As palavras homônimas são aquelas com significados diferentes, mas com pronúncia e/ou grafia idênticas. São subclassificadas em:
1 – Homógrafas heterofônicas: mesma grafia, mas pronúncia diferente.
Exemplo: conserto (substantivo) – conserto (verbo).
2 – Homófonas heterográficas: mesma pronúncia, mas grafia diferente.
Exemplo: cerrar (verbo) – serrar (verbo).
3 – Homófonas homógrafas: mesma pronúncia e mesma grafia.
Exemplo: verão (verbo) – verão ( substantivo)
Paronímia
Palavras parônimas são palavras que têm grafias parecidas.
Alguns exemplos são:
- babador/babadouro;
- bimensal/bimestral;
- câmara/câmera;
- deferir/diferir.
O uso do hífen
Depois da reforma ortográfica, o uso do hífen (aquele tracinho que, vez ou outra, separa duas palavras) passou a ser objeto de consulta constante.
Sabendo disso, também trouxemos as regras que regem o emprego do hífen.
Regras gerais
O hífen deve ser utilizado para separar:
1 – Palavras compostas por justaposição (quando duas palavras se juntam sem perder sua autonomia fonética).
Exemplo:
- couve-flor;
- anos-luz;
- arco-íris.
2 – Nomes de lugares.
Exemplo:
- Grã-Bretanha;
- Grão-Pará;
- Baía de Todos-os-Santos.
3 – Espécies botânicas e zoológicas.
Exemplo:
- amor-perfeito;
- tamanduá-bandeira;
- pimenta-do-reino.
4 – Palavras compostas que são iniciadas pelos substantivos bem e mal e que comecem com a letra h ou com vogal.
Exemplo:
- bem-humorado;
- bem-amado;
- mal-assombrado.
O uso do hífen com prefixos
O prefixo é a parte que precede uma palavra, isto é, vem antes dela. Usa-se hifens depois dos prefixos quando:
1 – O segundo elemento começa com a letra h.
Exemplo:
- pré-história;
- super-homem;
- sobre-humano.
2 – O segundo elemento começa com a mesma vogal a qual termina o prefixo.
Exemplo:
- micro-ondas;
- auto-observação;
- semi-interno.
3 – São utilizados os prefixos circum e pan.
Exemplo:
- circum-ambiente;
- pan-americano;
- pan-africanismo.
O uso do hífen depois dos sufixos
O sufixo é a parte que sucede uma palavra, ou seja, vem depois dela. Usa-se hifens depois dos sufixos quando:
1 – Os sufixos são de origem tupi, quando a pronúncia exigir.
Exemplo:
- anajá-mirim;
- capim-açú;
- andá-açu.
O uso dos porquês
Muitas pessoas ainda ficam confusas na hora de utilizar os porquês, por isso, resolvemos separar um espacinho do texto para falar sobre eles. Dá uma olhada:
1 – Porque (junto e sem acento): deve ser usado em sentenças afirmativas.
Exemplo:
- Eu fui porque eu quis.
2 – Por que (separado e sem acento): deve ser usado no início de sentenças interrogativas.
Exemplo:
- Por que você fez isso?
3 – Por quê (separada e com acento): deve ser usado no final de sentenças quando tiver o sentido de por qual razão ou por qual motivo.
Exemplo:
- Ela não foi à festa no domingo, e eu imagino por quê.
4 – Porquê: deve ser usado quando fizer as vezes de substantivo (sempre é acompanhado pelo artigo “o“).
Exemplo:
- O garoto vai precisar explicar o porquê dos seus atos.
Casos ortográficos especiais
Além do uso dos porquês, existem alguns outros grupos de palavras que, por serem parecidas, geram dúvidas sobre a sua grafia e sobre o seu uso.
Nos tópicos que se seguem, separamos e explicamos os mais comuns.
Uso do há e do a
O há (verbo) e o a (pronome ou artigo) são exemplos de palavras homófonas heterográficas (aquelas que nós conversamos nos tópicos anteriores, lembra?), ou seja, têm a mesma pronúncia, mas são escritas de maneiras diferentes.
Vejamos como utilizá-las:
1 – O verbo há deve ser usado como indicativo de tempo decorrido.
Exemplo:
- Há muito tempo que não a vejo.
2 – O “a” deve ocupar a posição de artigo ou de pronome numa frase.
Exemplo:
- A bolsa da mulher foi roubada.
No caso acima, o “a” ocupa a posição de artigo, acompanhando o substantivo bolsa.
Uso de “onde” e “aonde”
Distinguir o uso do onde e do aonde é bem simples. Observe:
1 – O “onde” deve ser utilizado para retomar lugares.
Exemplo:
- Fui ao Rio de Janeiro, onde visitei o Pão de açúcar
2 – O “aonde” deve ser utilizado quando houver ideia de movimento.
Exemplo:
- Aonde você vai?
Uso de “cessão”, “sessão”, “secção” e “seção”
Essas quatro palavrinhas também são exemplos de palavras homófonas heterográficas. Cada uma delas é um substantivo diferente e possuem um significado específico.
1 – Cessão: ato ou efeito de ceder.
Exemplo:
- Ela aprovou a cessão de suas roupas a uma igreja.
2 – Sessão: reunião, ou período de tempo que dura um determinado encontro.
Exemplo:
- Ela foi a uma sessão de cinema.
3 – Secção/seção: parte de um todo, ou segmento.
Exemplo:
- Aquela seção destina-se aos arquivos do ano passado.
Seção e secção são formas de grafia diferentes para a mesma palavra, sendo secção usada em Portugal e seção no Brasil.
Chegamos ao fim da nossa conversa. Espero que ela tenha sido produtiva para você. Não deixe de salvar a página para consultas futuras.
E bons estudos!
Veja também:
- Figuras de linguagem;
- Orações subordinadas;
- Concordância Verbal;
- Orações Coordenadas;
- Orações Subordinadas;
- Substantivos.
Referência
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. [s.l.] Lexikon, 2016. books.google.com.br/books?id=vSf3zQEACAAJ