“Saiu da vida para entrar na história”. Foi assim que um dos períodos políticos brasileiros mais conturbado ficou conhecido. A era vargas denomina o período em que o Brasil foi governado durante 15 anos por um mesmo presidente, Getúlio Vargas.
Esse período durou de 1930 a 1945, embora Getúlio tenha retomado ao cenário político em 1951, alguns anos antes dos anos de chumbo. De modo geral, a era vargas foi marcada pela bipolaridade política, que constitui o jogo de cintura governamental, que buscava agradar gregos e troianos, ou seja, que buscava favorecer tanto os membros da direita quanto da esquerda.
Entretanto, ao passo que isso acontecia, Vargas governava o país com autoritarismo, o que auxiliou, a longo prazo, a perda do favoritismo do governo e, consequentemente, culminou na morte do presidente.
Com o intuito de entendermos esse turbilhão de acontecimentos desse período político, hoje te ajudaremos a conhecer as características e as fases da era vargas.
Características da Era Vargas
Getúlio possuía inúmeras características que refletiam em sua política. Quatro delas, destacadas abaixo, estão fortemente presentes durante toda a era vargas. São elas:
- Centralização do poder: onde o Estado concentra todo o poder no executivo, retirando qualquer resquício de divisão de poder como na República do Café com Leite.
- Política Trabalhista: para mascarar seu autoritarismo, Vargas investe em leis trabalhistas, o que garante seu populismo durante a era vargas.
- Propaganda Política: tentando calar a imprensa e a oposição, Vargas cria o DIP, e censura qualquer forma de informação não governamental. Ao mesmo tempo, investe em propaganda política para fortalecer o poder.
- Capacidade de negociação política: fazendo parte de vários movimentos políticos, Vargas negociou bastante com muitos países, em troca, claro, de investimentos no Brasil.
Essas e outras características da era vargas ficarão mais nítidas a partir do momento que começarmos a entender as fases do seu governo. Vamos lá!
Fases da Era Vargas
Para compreendermos melhor as fases da era vargas, dividimos os períodos governamentais em quatro tópicos, que discutiremos a seguir.
Revolução de 30
Anteriormente a tomada de poder de Getúlio, o Brasil era governado através do revezamento de poder entre dois estados: São Paulo e Minas Gerais. Essa aliança, também chamada de República do Café com Leite, se baseava justamente na produtividade agrícola de cada estado, onde um era o maior produtor de leite e ou outro maior produtor de café, e juntos monopolizavam a economia e a política brasileira a partir de alianças nos demais estados.
Entretanto, esse sistema político se viu ameaçado quando o atual presidente paulista Washington Luís ameaçou nomear um novo presidente paulista ao cargo. Em contrapartida, Minas Gerais, em comum acordo com os estados do Rio Grande do Sul e Paraíba, fundaram a Aliança Libertadora, e lançaram como presidente Getúlio Vargas.
Foi justamente com essa quebra de “contrato”, também chamada de Golpe de Estado, e a nomeação de outro sucessor do mesmo lado da república do café com leite, que representou a Revolução de 30, que rompeu com a república anterior vigente.
Governo Provisório (1930-1934)
Após assumir o cargo, iniciou-se o que conhecemos hoje como era vargas. A primeira fase do seu governo é chamada de governo provisório, e foi caracterizada pela total destruição do sistema político da república café com leite.
Para tanto, ele centralizou o poder no Estado. Sendo assim, fechou o Congresso e aboliu a Constituição de 1891. Além disso, o novo presidente nomeou novos comandantes para cada estado, que em sua maioria eram tenentes que contribuíram na Revolução de 30.
As mudanças ocorridas durante esse período, que durou quatro anos, eram tidas pela população como passageiras. Entretanto, os rumos do governo mostravam algo permanente. Por esse motivo, as antigas elites reuniram a população em uma Revolução Constitucionalista de 32, que buscava a produção de uma nova carta magna que garantisse, principalmente, os direitos trabalhistas.
O movimento foi cessado pelo governo, embora parte das demandas populacionais tenham sido atendidas, como a produção da Constituição de 1934, que expandia os direitos sociais, como, por exemplo, a inserção do voto secreto, do voto feminino, e a garantia de direitos trabalhista com direito a férias, previdência social e jornada diária de trabalho de 8 horas.
Governo Constitucional (1934-1937)
Passado o “período de aprovação popular”, Vargas é, então, eleito em 1934, dando continuidade a era vargas. Essa nova fase da presidência de Getúlio é também nomeada de Governo Constitucional, fazendo alusão a Constituição de 1934.
Embora o período sugira uma fase de calmaria, as relações políticas mundiais mostravam o contrário. Durante o mesmo período de ascensão de Vargas, o continente europeu via a ascensão de regimes fascistas, nazistas e comunistas.
Entretanto, o Brasil não era blindado, e logo essas ideologias começaram a moldar movimentos, como a Ação Integralista Brasileira (AIB), de extrema direita, e a Aliança Nacional Libertadora (ANL), de caráter comunista.
Ou seja, dois movimentos antagônicos, onde o primeiro defendia a centralização do poder do Estado, o fim da democracia e perseguição aos comunistas. E a segunda defendia a reforma agrária e o fim do imperialismo.
Frente a esse cenário, o governo divulga um falso plano de derrubada do governo por meio da aliança comunista. Essa atitude tinha a finalidade de anunciar o Estado de Sítio no Brasil, marcada pela dissolução do Legislativo, cancelamento das eleições de 1937 e da Constituição de 1934.
Estado Novo (1937-1945)
A terceira fase da era vargas é conhecida como Estado Novo, e aqui é possível ver o lado ditador de Getúlio.
Nesse período foi lançada uma nova Constituição, agora de 1937, denominada de Polaca. Essa nova carta magna era marcada pela presença forte do executivo, pela abominação dos partidos, que tinham seus membros perseguidos e torturados.
Além de cessar a vida da população, Vargas também reprimiu a imprensa e obras de arte por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Para acobertar essas decisões, Getúlio apostava em desenvolver leis trabalhistas, como a Justiça do Trabalho, a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), onde era indicado o salário mínimo, o direito ao descanso semanal remunerado e as condições de segurança no trabalho. Essas mudanças no setor trabalhista, auxiliaram Vargas a ficar bem visto, sendo assim denominado de Pai dos pobres.
A Era Vargas e a Segunda Guerra Mundial
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o Brasil integrou o grupo dos Aliados, onde ao lado dos EUA, lutou contra o autoritarismo europeu, esquecendo que em solo brasileiro, Getúlio cultuava o autoritarismo.
Entretanto, a participação do governo na Segunda Guerra estava mais ligada ao fato de possíveis investimentos americanos nas indústrias brasileiras.
O Fim da Era Vargas
Após a quarta fase da era vargas, Getúlio é deposto do cargo por meio de um Golpe de Estado articulado pela União Democrática Nacional (UDN) e pelos militares.
Entretanto, por pressão popular nas urnas, Vargas retorna ao comando do país no que ficou conhecido como a segunda era vargas. Aqui com seu caráter populista e de defesa dos recursos naturais, Getúlio cria a Petrobras.
Porém, suas políticas já não eram vistas com bons olhos, principalmente por aqueles que defendiam a não centralização do poder nas mãos do Estado. Frente a isso, grupos contrários ao governo articularam atentados.
Um dos mais conhecidos foi o atentado da Rua Tonelero, onde Carlos Lacerda, porta voz da UDN, ficou gravemente ferido, e Vargas foi acusado da responsabilidade do evento.
Somado a isso, a pressão das Forças Armadas indicava a saído de Getúlio da presidência. No entanto, Vargas se recusa, e em 24 de agosto de 1954 Getúlio suicida-se no Palácio do Catete, saindo da vida, e entrado na história.
Autora: Letícia, Bacharela em Humanidades.